Resumo: Um pequeno artigo sobre o Teatro na Bíblia, e se essa arte pode ou não ser considerada bíblica, a seguir de maneira bem clara, definitiva e resumida, o que todo artista Cristão deve saber.
A palavra 'teatro' vem do grego (theatron) e designa o lugar onde se assiste a um espetáculo, seus espectadores ou o próprio espetáculo. A palavra é etimologicamente formada por théa 'espetáculo, vista, visão' mais o sufixo -tron 'instrumento', significando literalmente 'meio pelo qual se realiza um espetáculo'. Mais que o local, 'teatro' designa a arte do ator e da atriz, a dramatização, a representação e os meios e recursos humanos para a concretização do espetáculo.
Os historiadores da arte assinalam que desde seus primórdios o
ser humano usou da dramatização para expressar suas crenças e valores.
Entendendo que força e determinação não eram suficientes para assegurar sua
sobrevivência, os povos primitivos usavam danças imitativas visando angariar o
favor e proteção de Deus ou dos supostos deuses que controlavam todos os fatos
necessários à sua sobrevivência (fertilidade, família, êxito nas batalhas,
etc). Sendo assim, o teatro em suas origens possuía um caráter religioso,
espiritual. Esse teatro primitivo constituía-se de danças dramáticas coletivas
que tratavam das várias questões da vida. Com o tempo os humanos começam a
desenvolver suas crenças e filosofias bem como sua tecnologia e arte. Sem a
revelação do Deus bíblico ou dela prescindindo, os homens elaboram mitos, sagas
cósmicas politeístas, que visavam explicar a origem, a manutenção e o sentido
da vida e passam a dramatizar esses mitos inicialmente através das danças
miméticas, isto é, compostas por mímica e música. Em civilizações mais
desenvolvidas, como a egípcia e as mesopotâmicas, os pequenos ritos tornaram-se
grandes rituais formalizados. Esses rituais eram a história do mito em ação,
isto é, em movimento. Eles propagavam as tradições e serviam como entretenimento.
Na Grécia, a partir da evolução da dramatização dos mitos, surge o embrião
teatro moderno. Inicialmente havia o ditirambo, um tipo de procissão informal
que servia para homenagear o deus Dionísio (deus do vinho). O ditirambo evoluiu
dando origem a um coro onde os componentes cantavam, dançavam e contavam os
mitos relativos a Dionísio. A grande inovação deu-se quando se criou o diálogo
entre os componentes do coro. Instala-se desta forma a ação na narrativa dos
mitos dando origem aos primeiros textos teatrais. Inicialmente faziam-se as
representações nas ruas, passando-se para um lugar próprio. E assim surgiram os
primeiros teatros.
Se o teatro tem suas origens na dramatização de mitos pagãos o
que ele então tem a ver com a atual prática das igrejas utilizarem o teatro
como veículo de edificação e evangelização?
Nas Sagradas Escrituras vamos encontrar a palavra 'teatro' em
duas ocasiões (Atos 19.29,31) significando o local de reunião de uma
assembleia, porém na Bíblia não vamos encontrar o teatro no sentido de arte
cênica apresentada em local próprio como espetáculo. No Antigo Testamento, as
palavras traduzidas por 'espetáculo' (mar’eh, ro’iy)
significam visão, aparência, espetáculo. Há ainda a palavra zeva'ah
geralmente traduzida por espetáculo horrendo. Estas palavras estão associadas
ao juízo divino: quando Deus trouxer seu juízo será um espetáculo, isto é, algo
notório, que servirá de símbolo, exemplo e reflexão (Deuteronômio 28.67;
Jeremias 15.4; 29.18; 34.17; Naum 3.6). No Novo Testamento encontramos a
palavra theatron (1Co 4.9) e outras dela derivadas ou correlatas
significando 'espetáculo' no sentido de que algo ou alguém está sendo observado
por várias pessoas e nelas causa algum efeito (Lc 23.48; Hb 10.33; 12.21).
Nos dias de Jesus havia um teatro em Jerusalém construído por
ordem do Rei Herodes, o Grande (73 – 4 a.C.), porém para agradar aos romanos.
Embora os antigos judeus convivessem com culturas que patrocinavam as artes
teatrais como a grega e a romana e em Jerusalém houvesse um teatro, eles não
aderiram ou incorporaram à sua liturgia e cultura esse tipo expressão artística
principalmente por que muitas das peças teatrais da antiguidade eram repletas
de paganismo e sensualidade. Pelo mesmo motivo os primeiros cristãos rejeitaram
o teatro até que na Idade Média passaram a utilizá-lo como forma de catequese.
No transcurso dos séculos vários grupos cristãos foram utilizarando as artes
cênicas como veículo de propagação da fé.
Devemos também observar que o fato de algo ser um elemento
cultural não-judaico não impede deste ser usado a serviço de Deus. Não é sem
razão que Paulo usa a poesia pagã grega para evangelizar (Atos 17.28) e exortar
(Tito 1.12,13).
Não obstante a origem pagã, a essência do teatro, isto é, a
dramatização, é encontrada na Bíblia através da liturgia sacerdotal e nos atos
simbólicos dos profetas, inclusive os de Jesus.
Não bastou a Deus dizer a Abraão que ele seria pai de uma
multidão de pessoas. Deus o fez sair da tenda e ver as estrelas e disse: “Olha
para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a
tua posteridade”(Gênesis 15.5). Deus usou sua arte, as estrelas, para
mostrar a Abraão o que Ele pretendia realizar. Não foram suficientes as
palavras. Deus quis que Abraão visse. Essa é a essência do teatro na sua origem
etimológica: 'ver,' 'algo para ser visto'. O teatro como espetáculo pode ter
suas raízes nos cultos pagãos; mas o uso de recursos visuais, de imagens
inspiradoras, a dramatização da verdade espiritual, tem sua origem em Deus.
O livro de Levítico registra vários tipos de rituais que os sacerdotes e os ofertantes praticavam na Antiga Aliança. Diz o Novo Testamento que esses rituais eram sombras, símbolos do mundo espiritual e de coisas que estavam para vir (Colossenses 2.17; Hebreus 8.5). Isto é: eles dramatizavam realidades espirituais. Não bastavam aos homens e mulheres da Antiga Aliança pedir verbalmente perdão a Deus por seus pecados ainda que com sinceridade. Esse pedido de perdão e aceitação era dramatizado através dos sacrifícios e da mediação sacerdotal que eram símbolos de realidades espirituais bem como de acontecimentos vindouros. As realidades espirituais do perdão, expiação, redenção, da mediação eram vivenciadas e dramatizadas pelos ritos levíticos. Por exemplo, segundo estudiosos, a oferta pacífica movida perante o Senhor (Levítico 7.29-34) tinha o seguinte ritual: a porção do sacrifício destinada ao sacerdote era primeiramente colocada nas mãos do ofertante. Então o sacerdote colocava suas mãos embaixo das mãos do ofertante e as movia com a oferta para frente e para trás e para cima e para baixo. O que foi feito? Um sinal de cruz. À luz do Novo Testamento, esse rito representava ou dramatizava o vindouro sacrifício de Cristo.
A liturgia do Antigo Testamento é teatro, é dramatização de
realidades espirituais.
Os Atos ProféticosNos Profetas vamos encontrar verdadeiras interpretações teatrais da palavra divina. Era comum entre os profetas transmitir uma mensagem mediante dramatização, que seria um recurso didático para prender a atenção dos ouvintes. Os eventos simbolizados eram uma declaração de Deus, através de seus mensageiros, daquilo que ele estava prestes a fazer ou de alguma realidade espiritual. Oséias teve que representar radicalmente o estado de infidelidade de Israel para com Deus casando-se com uma mulher adúltera (Oséias 1-3).
Exemplos de dramatizações ou ações simbólicas das mensagens
divinas pelos: o discípulo dos profetas (1Reis 20.35-43), Aías de Silo (1Reis
11,29s), Isaías (Isaías 20.2-4), Ágabo (Atos 21.10-11). As ações de Jeremias e
Ezequiel têm sido claramente identificadas como pantomima e teatro de rua por
artistas (Rory Noland) e teólogos (Silvia Schroer e Thomas Staubli). Vejam-se o
grande número de ações simbólicas e recursos visuais que eles representaram
para transmitir sua mensagem profética:
Jeremias1 - Cinto de linho escondido no Eufrates (13.1-11);
2 - O oleiro e o barro (18.1-8);
3 - A botija quebrada (19.1-13) ;
4 - Um jugo no pescoço (27.1-8);
5 - Compra do campo do parente (32.6-15);
6 - A obediência dos recabitas (35.1-19);
7 - As pedras escondidas (43.8-13);
8 - Livro jogado no Eufrates (51.63,64);
Ezequiel
1 - Ele representou o cerco de Jerusalém com um tijolo (4.1-3);
2 - A fome no cativeiro cozendo pão com excrementos (4.9-17);
3 - A destruição pela espada cortando seus cabelos com navalha e os atirando ao vento (5.1-7);
4 - A ida do povo ao cativeiro fazendo um buraco na parede para partir com suas mobílias como um deportado.(12.1-11);
5 - Com uma espada afiada e polida retratou o juízo iminente sobre Jerusalém (21.1-17);
6 - A vitória da Babilônia é retratada pela espada de Nabucodonosor (21.18-23);
7 - A queda de Jerusalém é simbolizada pela morte da esposa (24.15-27);
8 - A união de Judá e Israel pela escrita do nome de Judá e de Israel em dois bastões (37.15-28).
1 - Ele representou o cerco de Jerusalém com um tijolo (4.1-3);
2 - A fome no cativeiro cozendo pão com excrementos (4.9-17);
3 - A destruição pela espada cortando seus cabelos com navalha e os atirando ao vento (5.1-7);
4 - A ida do povo ao cativeiro fazendo um buraco na parede para partir com suas mobílias como um deportado.(12.1-11);
5 - Com uma espada afiada e polida retratou o juízo iminente sobre Jerusalém (21.1-17);
6 - A vitória da Babilônia é retratada pela espada de Nabucodonosor (21.18-23);
7 - A queda de Jerusalém é simbolizada pela morte da esposa (24.15-27);
8 - A união de Judá e Israel pela escrita do nome de Judá e de Israel em dois bastões (37.15-28).
Não se pode deixar de mencionar o próprio Jesus. As parábolas
evocam cenas do dia a dia e a visualização delas na mente à medida que são
lidas ou ouvidas. Embora não encenadas, são visualizadas na IMAGINAÇÃO. Para
ilustrar a esterilidade de uma falsa aparência ele amaldiçoa a figueira sem
frutos que seca imediatamente tornando-se um símbolo vívido (Mateus 21.19-21).
Há que se falar também do lava-pés: para mostrar como devemos servir uns aos
outros Jesus se caracteriza como um escravo e faz um serviço que só escravos
faziam (João 13.1-17). Não bastou a Jesus falar; ele teve que teatralizar seu
ensino.
Muitos gestos simbólicos são registrados na Bíblia: mãos
erguidas (Êxodo 17.8-16), virar o rosto em direção ao objeto da profecia
(Ezequiel 6.1-3), marchar em círculos (Josué 6.1-20), dentre outros,
concluindo-se assim a Bíblia registra que a mensagem divina e as realidades
espirituais foram dramatizadas de várias formas até hoje usadas.
Em suma, existe uma base bíblica para o uso do teatro na
proclamação da Palavra de Deus.
Ministério de Teatro na Igreja
O Novo Testamento tem cinco listas de dons e ministérios (1Coríntios 12.8-10,28-30; Romanos 12.6-8; Efésios 4.11; 1Pedro 4.10,11). Muitos dons e ministérios são repetidos, outros citados uma só vez, outros não têm títulos sendo antes ações: exortar, contribuir, exercer misericórdia ou simplesmente servir como afirma o texto de 1Pedro 4.11. Disso se conclui que o Novo Testamento não tem uma lista definitiva e limitada do número de ministérios que deve haver na igreja de acordo com sua necessidade. O diaconato não surgiu de uma revelação divina; houve a necessidade de se levantar pessoas para essa função (Atos 6.1-7). Tanto é assim que todas as denominações têm ministérios ou departamentos que não são citados no Novo Testamento: Ministério de Música, Tesouraria, Ministério Infantil, Sociedades Femininas, Masculinas, Círculo de Oração, Mocidade, etc. Quantas são as necessidades da igreja tantos são seus departamentos ou ministérios. E todos terão base bíblica já que a essência de um ministério é um serviço prestado a Deus e ao próximo. Atuar, como qualquer arte, é um dom divino. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança" (Tg 1.17). Portanto podemos utilizar esse dom a serviço do Evangelho: "Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Pedro 4.10). Em síntese, o fato do Novo Testamento não falar de um ministério de artes não impede que haja tal ministério da igreja.
O Novo Testamento tem cinco listas de dons e ministérios (1Coríntios 12.8-10,28-30; Romanos 12.6-8; Efésios 4.11; 1Pedro 4.10,11). Muitos dons e ministérios são repetidos, outros citados uma só vez, outros não têm títulos sendo antes ações: exortar, contribuir, exercer misericórdia ou simplesmente servir como afirma o texto de 1Pedro 4.11. Disso se conclui que o Novo Testamento não tem uma lista definitiva e limitada do número de ministérios que deve haver na igreja de acordo com sua necessidade. O diaconato não surgiu de uma revelação divina; houve a necessidade de se levantar pessoas para essa função (Atos 6.1-7). Tanto é assim que todas as denominações têm ministérios ou departamentos que não são citados no Novo Testamento: Ministério de Música, Tesouraria, Ministério Infantil, Sociedades Femininas, Masculinas, Círculo de Oração, Mocidade, etc. Quantas são as necessidades da igreja tantos são seus departamentos ou ministérios. E todos terão base bíblica já que a essência de um ministério é um serviço prestado a Deus e ao próximo. Atuar, como qualquer arte, é um dom divino. "Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança" (Tg 1.17). Portanto podemos utilizar esse dom a serviço do Evangelho: "Servi uns aos outros, cada um conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus" (1 Pedro 4.10). Em síntese, o fato do Novo Testamento não falar de um ministério de artes não impede que haja tal ministério da igreja.
O fato de não haver menção no Novo Testamento ao teatro na
liturgia cristã não impede deste ser utilizado, já que o mesmo não fala também
de instrumentos musicais na adoração cristã de então e eles são utilizados na
adoração cristã de hoje. No Novo Testamento há espaço para qualquer expressão
litúrgica desde que haja decência e ordem (1Coríntios 14.40).
Tendo em vista o acima dissertado, o teatro tem sim o seu espaço
na igreja cristã de hoje como expressão de adoração, edificação e estratégia
evangelística. Tal uso pressupõe não apenas a vontade de interpretar, mas
também aptidão técnica, trabalho em equipe, aprovação e supervisão pastoral, ou
seja, a utilização contínua da dança e do teatro na igreja deve ser organizada
como um ministério.
REFERÊNCIAS:
HARRISON, R. K. Levítico: introdução e comentário. São
Paulo: Vida Nova, Mundo Cristão, 1983.
HOUAISS, Antonio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua
Portuguesa. Versão 1.0 (CD-ROM), Objetiva, 2001.
LOURO, Fabiana. A Origem e Evolução do Teatro.
NOLAND, Rory. O Coração do Artista: construindo o caráter do
artista cristão. São Paulo : W4 Editora, 2007.
PETERVELITZ, Luciano R. Introdução ao Profetismo. In: Revista Theos. 5 ed. Vol. 4. Nº
1. Campinas: Faculdade Teológica Batista de Campina, 2008. Disponível em:
www.revistatheos.com.br/Artigos/Artigo_05_02.pdf
SCHROER, Silvia; STAUBLI, Thomas. Simbolismo do Corpo na
Bíblia. São Paulo: Paulinas, 2003.
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